Você confiaria que seu sistema solar está seguro apenas com a proteção oferecida dentro do inversor? A princípio, pode parecer que sim. Afinal, muitos fabricantes anunciam a presença de proteção interna contra surtos. Contudo, será que a proteção interna do inversor solar realmente funciona?
Sobretudo, essa dúvida se tornou um ponto de atenção entre integradores e especialistas do setor. Primordialmente, entender o que está — ou não está — embutido nesses equipamentos pode significar a diferença entre um sistema seguro e um prejuízo significativo causado por uma descarga elétrica.
Neste artigo, vamos esclarecer de forma técnica e direta se os inversores realmente possuem DPS (Dispositivo de Proteção contra Surtos) interno, como essa suposta proteção age e por que o uso de um DPS externo continua sendo indispensável para a segurança do seu sistema fotovoltaico.
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ToggleO que é a proteção interna nos inversores solares?
Muitos fabricantes afirmam que seus inversores já vêm com proteção contra surtos embutida. No entanto, o que normalmente existe é apenas um varistor, componente que faz parte de um DPS, mas que sozinho não o caracteriza como tal.
De acordo com a norma técnica NBR IEC 61643, a classificação de um equipamento como DPS exige que ele cumpra pelo menos 18 ensaios rigorosos. Um varistor isolado, por si só, não passa por essa bateria de testes e não apresenta as características exigidas para ser reconhecido como dispositivo de proteção certificado.
Portanto, a chamada proteção interna do inversor solar muitas vezes não é, de fato, uma proteção eficaz contra surtos — mas apenas uma defesa mínima, que não substitui um sistema externo adequado.
A diferença entre varistor e DPS
Um varistor é um componente que reage à sobretensão absorvendo parte da energia do surto. No entanto, ele não oferece controle térmico, sinalização de fim de vida útil, nem desconexão segura — elementos obrigatórios em um DPS.
Um DPS é um dispositivo projetado para desviar surtos elétricos de forma segura. Ele direciona a descarga para o sistema de aterramento antes que atinja componentes sensíveis, como placas e microcontroladores do inversor.
Confiar apenas na proteção interna do inversor solar é arriscado. O integrador ou consumidor expõe o equipamento a danos, que ele pode evitar com um DPS externo de qualidade
Por que o DPS externo é essencial?
Estudos realizados pela Universidade de Pernambuco, em parceria com a Clamper, mostraram resultados alarmantes: diversos inversores que alegavam proteção interna falharam nos primeiros pulsos de teste de sobretensão.
O estudo simulou surtos com 6 kV, considerados conservadores dentro das condições reais de campo. Alguns inversores queimaram no primeiro pulso. Os que resistiram, no melhor dos casos, suportaram até sete pulsos. Já os inversores protegidos com um DPS externo suportaram até 100 pulsos — e o teste foi interrompido por questão de tempo, não por falha.
Ou seja, a proteção interna do inversor solar — quando existe — se mostrou claramente insuficiente diante de surtos reais. Isso comprova que a única forma eficiente de proteger seu sistema é conter o surto antes que ele chegue ao inversor, por meio de uma string box com DPS instalado corretamente.
Como o surto impacta o interior do inversor?
Mesmo que o DPS interno atuasse como prometido, isso significaria que o surto já teria chegado ao interior do inversor. Nesse ponto, o dano pode já estar feito. As ondas eletromagnéticas causadas por um surto são capazes de induzir tensões nos microcomponentes da placa eletrônica, provocando falhas invisíveis que se manifestam com o tempo.
Em termos práticos, confiar exclusivamente na proteção interna do inversor solar é o mesmo que instalar um para-raios dentro da casa: ele até pode funcionar, mas o raio já atingiu o imóvel.
Quanto um DPS externo pode proteger?
De acordo com os mesmos estudos, um DPS externo escoa até 93% da energia de um surto elétrico. O próprio inversor filtra os 7% residuais e, nesse ponto, o varistor interno pode até exercer alguma função complementar.
Portanto, um sistema de proteção realmente eficaz bloqueia o surto antes que ele atinja o equipamento, o que reduz drasticamente o risco de danos.
Conclusão: vale confiar na proteção interna do inversor?
Com base em dados técnicos, normas internacionais e testes laboratoriais, a resposta é clara: a proteção interna do inversor solar não funciona de forma confiável para proteger seu sistema fotovoltaico. Mesmo que existisse um DPS interno real — o que não é comum — ele já estaria recebendo o surto dentro do inversor, o que compromete a segurança do equipamento.
Por isso, a recomendação unânime entre especialistas é a instalação de um DPS externo, preferencialmente por meio de uma string box com proteção AC e DC. Essa medida simples aumenta significativamente a vida útil do sistema e reduz os riscos de danos irreversíveis.
Se você ainda não instala DPS externo nos seus projetos, talvez seja hora de rever esse hábito. A segurança do seu cliente — e a sua reputação como integrador — dependem disso.