O Brasil já “joga fora” energia limpa por falta de capacidade da rede
Resumo do Conteúdo: Sim, o Brasil já ‘joga fora’ energia limpa diariamente por falta de capacidade da rede, um problema técnico chamado ‘curtailment’. A necessidade de evitar o colapso da rede força o Operador Nacional do Sistema (ONS) a desligar usinas solares e eólicas (cortes de 36% e 21%, respectivamente). A rede não consegue transmitir ou absorver o excesso de geração em horários de pico, o que gera perdas bilionárias (R$ 3,2 bi em 2025).
O Brasil vive um paradoxo energético surreal. Em um país com metas ambiciosas de descarbonização e uma das matrizes elétricas mais limpas do mundo, a realidade é que o Brasil já ‘joga fora’ energia limpa por falta de capacidade da rede todos os dias. A princípio, o que deveria ser celebrado o crescimento explosivo da energia solar e eólica tornou-se um problema operacional crônico.
Sobretudo, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) precisou tomar uma medida drástica. Ele mandou as usinas desligarem. Esse procedimento é conhecido como curtailment. É um corte deliberado na geração. O corte evita que o excesso de energia sobrecarregue a infraestrutura. Isso impede um colapso no sistema, ou seja, um apagão. Portanto, é primordial entender por que essa situação acontece. Também é preciso entender suas consequências.
Este artigo explica por que o Brasil já “joga fora” energia limpa. O motivo é a falta de capacidade da rede. O texto detalha as causas desse desequilível. Explica também o impacto da geração distribuída (GD) nesse cenário. Por fim, apresenta as soluções para resolver esse desperdício bilionário.
O que é “Curtailment”? O Descarte Técnico de Energia Limpa
O curtailment não é uma falha ou um defeito; é uma ordem. Trata-se de uma ação de controle do ONS, que comanda a redução ou o desligamento (corte) de usinas geradoras de energia. O objetivo é garantir a segurança e a confiabilidade do Sistema Interligado Nacional (SIN).
Michele Rodrigues, professora do Curso de Engenharia Elétrica da FEI, explica: “O curtailment é uma medida necessária para preservar a segurança e a confiabilidade do sistema elétrico. A geração e o consumo precisam estar sempre equilibrados. Quando há excesso de oferta, o sistema pode ficar sobrecarregado e até colapsar”.
Esse problema tem se tornado diário e atingiu níveis alarmantes. Sobretudo, em agosto de 2025, os cortes chegaram a 36% do potencial da energia solar e 21% da eólica. Segundo dados da ABEEólica (Associação Brasileira de Energia Eólica) divulgados pela CNN Brasil, as perdas estimadas para o setor em 2025 já chegam a R$ 3,2 bilhões.
As Causas: Por que a Rede Não Suporta a Geração?
A resposta para por que o Brasil já “joga fora” energia limpa por falta de capacidade da rede é multifatorial, mas se resume a um grande descompasso entre a velocidade da geração e a lentidão da infraestrutura.
1. Crescimento Descompassado (Gargalos de Transmissão)
A fonte do problema é positiva: o sucesso da energia solar e eólica foi rápido demais. O Nordeste, em particular, se tornou um polo gerador massivo, com ventos e sol de altíssima qualidade.
No entanto, as linhas de transmissão as “estradas” que levam essa energia até os grandes centros consumidores (como o Sudeste) não foram construídas no mesmo ritmo. O resultado é um congestionamento: a energia é gerada, mas não tem como ser escoada.
2. Sobreoferta em Horários de Baixa Demanda
O curtailment é mais intenso em momentos específicos: picos de geração renovável que coincidem com baixa demanda de consumo. Sobretudo, em feriados ou fins de semana (como no Dia dos Pais, citado pelo ONS), a geração solar atinge seu máximo ao meio-dia, exatamente quando as indústrias estão paradas e o consumo residencial é baixo.
Com 40% da energia vindo de sistemas fotovoltaicos nesses momentos, o sistema simplesmente não consegue absorver todo o excedente.
3. O Papel Complexo da Geração Distribuída (GD)
A Geração Distribuída (GD) os milhões de sistemas solares em residências e empresas também contribui para o desafio. Embora seja uma medida excelente de eficiência energética, a GD injeta energia “de baixo para cima” na rede de distribuição local.
O ONS não tem controle direto ou visibilidade sobre essa geração pulverizada. Isso torna o gerenciamento do equilíbrio ainda mais complexo, pois o operador não sabe exatamente quanta energia está entrando na rede local, dificultando o planejamento dos cortes nas grandes usinas.
O Paradoxo Energético: Sol Desperdiçado, Térmica Ligada
O cenário revela o que a professora Michele Rodrigues chama de “paradoxo energético brasileiro”. O Brasil já “joga fora” energia limpa por falta de capacidade da rede durante o dia, mas, poucas horas depois, é forçado a tomar uma medida oposta e igualmente cara.
Ao anoitecer, a geração solar (tanto centralizada quanto distribuída) cai a zero. No entanto, é exatamente nesse horário que ocorre o pico de consumo residencial.
Para suprir essa demanda sem esgotar os reservatórios das hidrelétricas, o ONS é obrigado a acionar usinas termelétricas, que são caras, poluentes (movidas a gás, diesel ou carvão) e elevam o custo da energia para todos os consumidores resultando em bandeiras tarifárias amarelas ou vermelhas, definidas pela ANEEL.
Soluções Urgentes para Evitar o Colapso
Para resolver esse desequilíbrio e parar de desperdiçar energia limpa, especialistas e órgãos do setor concordam que um conjunto de soluções é necessário:
- Expansão da Rede de Transmissão: Acelerar os leilões e a construção das linhas de transmissão que conectam o Nordeste ao Sudeste é a medida mais urgente para aliviar os gargalos.
- Investimento em Armazenamento de Energia: Esta é a solução definitiva. O uso de baterias em larga escala (BESS) permitiria “guardar” o excesso de energia solar gerado ao meio-dia para ser injetado na rede à noite, durante o pico de demanda. Isso transformaria uma fonte intermitente em uma fonte despachável.
- Tarifas Dinâmicas (Gestão de Demanda): Criar incentivos (tarifas mais baratas) para que grandes consumidores, como indústrias, desloquem seu consumo para os horários de sobreoferta solar, ajudando a “absorver” o excedente.
- Planejamento da ANEEL: A agência já estuda um Plano de Gestão de Excedentes na Rede de Distribuição, que pode, no futuro, incluir até mesmo o desligamento temporário de sistemas de GD em momentos críticos de sobrecarga.
Conclusão
Em suma, é um fato: o Brasil já “joga fora” energia limpa por falta de capacidade da rede. O sucesso da transição energética, impulsionado pela energia solar e eólica, expôs uma falha grave de planejamento na expansão da infraestrutura de transmissão e na falta de soluções de armazenamento.
O curtailment é hoje o sintoma mais claro desse desequilíbrio, gerando prejuízos bilionários ao setor e impedindo que o consumidor se beneficie de uma energia ainda mais barata. A solução exige investimentos pesados em linhas de transmissão e, sobretudo, uma regulamentação moderna que incentive o armazenamento de energia, seja em grande escala ou em sistemas residenciais, como os de energia solar off-grid.
O desafio do Brasil não é mais como gerar energia limpa, mas como gerenciá-la de forma inteligente. O que você acha que deveria ser a prioridade para resolver esse problema? Compartilhe sua opinião nos comentários!
FAQ – Perguntas Frequentes sobre Curtailment
Curtailment é o corte deliberado e controlado da geração de energia (principalmente solar e eólica), ordenado pelo Operador Nacional do Sistema (ONS), quando a produção excede a capacidade de transmissão da rede ou o consumo do país, visando evitar sobrecargas e apagões.
Indiretamente, sim. Embora o custo não venha na conta de luz como uma taxa, o desperdício de R$ 3,2 bilhões em energia barata impede que as tarifas de energia caiam. Além disso, ao ter que acionar termelétricas caras à noite para compensar a falta de armazenamento solar, o custo geral da energia sobe para todos.
Atualmente, o ONS não tem controle direto para desligar sistemas de Geração Distribuída (GD) residenciais. Os cortes (curtailment) afetam as grandes usinas (Geração Centralizada). No entanto, a ANEEL já estuda um Plano de Gestão de Excedentes que, no futuro, pode criar regras para gerenciar a injeção da GD em momentos de sobrecarga da rede local.
Porque o Nordeste possui os melhores ventos e um dos maiores índices de irradiação solar do mundo, o que atraiu a construção de centenas de usinas. Contudo, a região está longe dos maiores centros de consumo (Sudeste), e as linhas de transmissão existentes não são suficientes para escoar toda essa energia.
Sim, o armazenamento de energia em baterias é considerado a solução mais inteligente. Sobretudo, as baterias podem absorver o excesso de energia solar gerado ao meio-dia e injetá-lo na rede à noite, durante o pico de demanda, resolvendo o desequilíbrio e reduzindo a necessidade de termelétricas.
