O apagão poderia ter sido evitado? ONS aponta para falhas de proteção.

O apagão poderia ter sido evitado? ONS aponta para falhas de proteção.

Resumo do Conteúdo: Sim, o apagão poderia ter sido evitado ou, ao menos, ter seu impacto drasticamente reduzido. O Relatório de Análise de Perturbação (RAP) do ONS indica que, embora o evento inicial tenha sido um incêndio contido, a falha subsequente no sistema de proteção da Subestação Bateias foi o que provocou o efeito cascata, desligando linhas cruciais e separando o sistema elétrico da região Sul do restante do país.

Um incêndio em um único equipamento deveria ser capaz de deixar milhões de brasileiros no escuro? A princípio, a resposta para a pergunta “o apagão poderia ter sido evitado?” parece ser um contundente “sim”. Após a grande perturbação que afetou o país na última semana, as análises preliminares do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) começam a desenhar um cenário preocupante.

Sobretudo, o que se revela não é uma catástrofe inevitável, mas sim uma sequência de falhas em que um problema inicial, considerado controlável, foi massivamente amplificado por uma aparente falha nos sistemas de proteção da rede, transformando um incidente isolado em um blecaute de proporções nacionais.

Portanto, é primordial entender a cadeia de eventos que levou ao colapso. Este artigo detalha as conclusões iniciais do ONS, explica o “efeito dominó” que desconectou a região Sul do restante do Brasil e responde à pergunta que todos se fazem: de quem é a responsabilidade por essa falha crítica?

O Ponto de Partida: O Evento Zero em Ibiúna

Tudo começou à 00h31 da madrugada. A análise do ONS identificou o “evento zero” como um incêndio em um reator da linha de transmissão de 500 kV entre Ibiúna (SP) e Bateias (PR), de propriedade da Eletrobras.

É importante destacar que, neste primeiro momento, o sistema funcionou como deveria: a proteção da linha atuou corretamente e desligou o circuito afetado para isolar o problema.

Segundo o ONS, este desligamento, por si só, não representava nenhum risco para a estabilidade do Sistema Interligado Nacional (SIN).

A Falha Crítica: O Elo Fraco na Subestação Bateias

O problema se agravou em seguida. Um segundo desligamento, considerado incorreto pelo ONS, atingiu o circuito paralelo da mesma linha de transmissão. Mesmo assim, o sistema ainda deveria ter suportado o impacto.

A falha decisiva, no entanto, ocorreu quando a perturbação se estendeu para o barramento da Subestação Bateias, de responsabilidade da Copel. Neste ponto, o sistema de proteção da subestação não atuou como o esperado.

Essa falha crucial foi o estopim para o efeito cascata. A incapacidade de isolar o problema localmente provocou o desligamento sequencial de outras linhas de transmissão vitais conectadas à subestação.

O Efeito Dominó: Como o Brasil se Dividiu Eletricamente

A falha na Subestação Bateias desligou linhas de transmissão cruciais, como as que conectam Londrina a Assis (500 kV) e Ivaiporã a Tijuco Preto (765 kV). Essa sequência de eventos culminou na desconexão completa do sistema elétrico da região Sul do restante do país.

O ONS explica que, no momento da separação, a região Sul estava exportando cerca de 5 GW de energia para as outras regiões. Isso causou dois desequilíbrios perigosos e simultâneos:

  • No Sul: Houve um excesso de geração, provocando uma sobrefrequência na rede.
  • No Sudeste/Centro-Oeste, Norte e Nordeste: Houve uma falta de geração em relação ao consumo, causando uma subfrequência.

Para evitar um colapso total, mecanismos de segurança entraram em ação. No Sul, eles desligaram usinas para reduzir o excesso de geração. Nas outras regiões, o Esquema Regional de Alívio de Carga (ERAC) atuou, promovendo o corte controlado de energia para milhões de consumidores para reequilibrar o sistema. Foi este o apagão que a população sentiu.

A Resposta do Sistema e os Próximos Passos

Apesar da gravidade da perturbação, a recomposição do sistema foi relativamente rápida. Apenas quatro minutos após o início do evento, às 00h35, as equipes começaram o restabelecimento das cargas. O processo foi finalizado às 02h15 em todas as regiões afetadas.

A investigação, contudo, está apenas começando. O ONS já marcou a próxima reunião para a elaboração do Relatório de Análise de Perturbação (RAP) para o dia 28 de outubro.

Ao concluir o documento, a equipe o encaminhará à ANEEL, ao MME e a todos os agentes envolvidos (como Eletrobras e Copel). O relatório incluirá as recomendações e as providências que os agentes deverão tomar.

Conclusão

Em suma, a resposta para a pergunta se o apagão poderia ter sido evitado é, segundo os dados preliminares, afirmativa. O evento expõe uma vulnerabilidade crítica não na capacidade de geração de energia do país, mas na robustez e confiabilidade dos seus sistemas de proteção, que são a última linha de defesa contra falhas em cascata.

O incidente inicial na linha da Eletrobras foi um problema técnico contornável. A falha do sistema de proteção da Copel, no entanto, transformou um problema regional em uma crise nacional. A investigação do ONS será fundamental para determinar as responsabilidades e, mais importante, para exigir as correções e os investimentos necessários para que a infraestrutura de proteção da rede seja modernizada.

A segurança do sistema elétrico de um país do tamanho do Brasil não pode depender da sorte. Fica a lição de que a manutenção e a modernização da rede são investimentos tão cruciais quanto a construção de novas usinas. Você foi afetado pelo apagão? Acredita que a causa principal é a falta de investimento em manutenção? Compartilhe sua opinião nos comentários!

Rafaela Silva

Especializada em investimentos e sustentabilidade, com ampla experiência em análise de mercado e desenvolvimento de conteúdo sobre práticas financeiras e ambientais responsáveis.

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