Energia solar em aeroportos: Solução genial ou um pesadelo logístico?

Energia solar em aeroportos: Solução genial ou um pesadelo logístico?

Resumo do Conteúdo: A energia solar em aeroportos é uma solução genial para a sustentabilidade, mas sua implementação é um pesadelo logístico. Projetos, como os da Zurich Airport Brasil, exigem autorização da Polícia Federal e planejamento rigoroso devido à segurança nacional e ao tráfego aéreo, sendo viáveis apenas com engenharia sólida e parceiros confiáveis.

A instalação de energia solar em aeroportos é, à primeira vista, uma das soluções mais geniais para a transição energética. A princípio, esses locais dispõem de vastas áreas não utilizadas, como telhados de terminais, estacionamentos e grandes terrenos no entorno das pistas, com altíssima incidência solar. Contudo, transformar esse potencial em realidade expõe um desafio complexo, levando muitos a questionar se a ideia é uma solução brilhante ou um pesadelo logístico.

Sobretudo, a implementação de usinas fotovoltaicas nessas áreas vai muito além de uma instalação comercial comum. Ela esbarra em barreiras rigorosas de segurança nacional, logística de aviação e exigências técnicas que poucas empresas estão qualificadas a enfrentar.

Portanto, é primordial entender o que torna esses projetos tão difíceis e, ao mesmo tempo, tão necessários. Este artigo detalha os desafios reais enfrentados na instalação de energia solar em aeroportos, usando como exemplo os projetos pioneiros em andamento no Brasil, e explica o que é necessário para transformar o pesadelo logístico em uma solução de sucesso.

A Solução Genial: Por que Aeroportos são Ideais para Energia Solar?

Aeroportos são grandes consumidores de energia 24 horas por dia, operando sistemas de ar condicionado, iluminação de pistas, terminais e radares. Sobretudo, a busca pela neutralidade de carbono e pela redução de custos operacionais tornou a geração própria uma meta prioritária para administradoras globais.

A Zurich Airport Brasil, por exemplo, que administra diversos aeroportos no país, está avançando nessa frente. A concessionária contratou a WSO Solar para a implantação de duas grandes usinas:

  • Aeroporto de Macaé (RJ): Um projeto de 1 MWp (Megawatt-pico) com 1.400 módulos.
  • Aeroporto de Natal (RN): Um projeto muito mais robusto, com 7,2 MWp e 11 mil módulos.

Essas usinas utilizam áreas ociosas para gerar energia limpa, reduzir drasticamente a pegada de carbono da operação e diminuir os custos com eletricidade, alinhando-se a metas internacionais de sustentabilidade do setor aéreo.

O Pesadelo Logístico: A Realidade da Instalação em Área Restrita

É aqui que a ideia genial encontra a dura realidade. Em entrevista ao Canal Solar, Williman Oliveira, CEO da WSO Solar, empresa responsável pelos projetos da Zurich Airport, explica por que a instalação de energia solar em aeroportos é um desafio operacional extremo, muito mais complexo que uma usina de energia solar comum.

Zona de Segurança Nacional

O maior obstáculo não é técnico, mas de segurança. “O trabalho dentro da área operacional dos aeroportos considerada zona de segurança nacional exige autorização da Polícia Federal”, explica Oliveira. Sobretudo, isso significa que cada profissional, veículo e equipamento que entra na área restrita (próxima à pista) passa por uma verificação rigorosa de antecedentes e credenciamento.

Logística de “Zero Improviso”

O segundo desafio é o tempo. Um aeroporto não para. “Cada ação precisa ser programada, porque o tráfego de aeronaves é constante”, salienta o CEO. Não há espaço para improvisos. A logística é militar:

  • Horários Rígidos: A movimentação de veículos e materiais só pode ocorrer em janelas de tempo específicas, pré-autorizadas pela torre de controle.
  • Controle Total de Materiais: “Nada pode ser deixado no local. Cada item que entra precisa sair catalogado”, afirma Oliveira. Isso é feito para evitar o risco de FOD (Foreign Object Debris), qualquer objeto estranho que possa ser sugado pela turbina de uma aeronave, causando um acidente grave.

Os Pilares do Sucesso: O que é Preciso para Funcionar?

A experiência da WSO Solar em ambientes de alta complexidade, como os aeroportos da Zurich, oferece lições valiosas para o setor, mostrando o que é necessário para viabilizar projetos de energia solar em aeroportos.

Engenharia Sólida e Treinamento Específico

Não basta saber instalar energia solar. A empresa precisa ter uma equipe de engenharia sólida e processos “muito bem definidos”. Oliveira destaca que cada profissional deve ter “todos os treinamentos técnicos exigidos e estar preparado para trabalhar em um ambiente de controle máximo”.

Parcerias e Credenciamento (Bancabilidade)

Em projetos de infraestrutura crítica, a confiança nos equipamentos é fundamental. A WSO Solar utilizou módulos da JA Solar e Risen, e inversores Huawei. Contudo, Oliveira aponta um diferencial crucial: o suporte técnico e a chancela da WEG.

“Ser integrador credenciado da WEG foi determinante. Isso garantiu a bancabilidade e a confiança necessárias para um projeto dessa complexidade”, afirma o CEO. A “bancabilidade” significa que o projeto tem a confiança de instituições financeiras, facilitando o financiamento, e a segurança técnica de um grande fabricante nacional por trás.

Processos e Documentação Impecáveis

Em áreas de segurança nacional, tudo deve ser documentado. O planejamento precisa prever a rastreabilidade total de materiais, equipamentos e profissionais. Qualquer falha na documentação pode atrasar ou até inviabilizar a obra.

A Importância Estratégica para o Setor Aéreo

A implementação bem-sucedida de energia solar em aeroportos é um passo vital para o setor aéreo, que está sob intensa pressão global para reduzir suas emissões. Projetos como o do Solário Carioca no Rio de Janeiro (que transformou um aterro em usina) e agora os da Zurich Airport demonstram uma tendência irreversível.

Associações como a ABSOLAR (Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica) veem esses projetos como vitrines tecnológicas, que operam sob as rigorosas regras da ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica) e da ANAC (Agência Nacional de Aviação Civil).

Conclusão

Em suma, a energia solar em aeroportos é, de fato, uma solução genial, mas que exige navegar por um verdadeiro pesadelo logístico e burocrático para ser implementada. O sucesso de projetos como os de Macaé e Natal prova que é tecnicamente possível, mas que o nível de exigência é muito superior ao de um projeto convencional.

É preciso autorizações da Polícia Federal. É necessário um planejamento rigoroso para não interferir no tráfego aéreo. Também é preciso ter rastreabilidade total de materiais. Tudo isso eleva o custo e a complexidade. Sobretudo, a experiência da WSO Solar demonstra algo importante, para ter sucesso, a empresa integradora precisa de engenharia de ponta. Ela também precisa de processos impecáveis. Parcerias estratégicas com fabricantes de renome são fundamentais, como a WEG.

Essas parcerias asseguram a confiabilidade e a bancabilidade do projeto. O que você pensa sobre o uso de áreas aeroportuárias para geração de energia? Acredita que todos os grandes aeroportos deveriam ter suas próprias usinas solares? Compartilhe sua opinião nos comentários!

Rafaela Silva

Especializada em investimentos e sustentabilidade, com ampla experiência em análise de mercado e desenvolvimento de conteúdo sobre práticas financeiras e ambientais responsáveis.

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