O Brasil está mudando sua estratégia no setor fotovoltaico? A princípio, a redução das compras externas pode parecer negativa. Contudo, quando observamos os dados mais recentes, percebemos que essa tendência reflete uma transformação mais ampla no cenário energético global.
De acordo com levantamento da InfoLink Consulting, o Brasil reduziu a importação de placas solares no primeiro bimestre de 2025, registrando queda de 24% em relação ao mesmo período do ano anterior. Ainda assim, o país segue como líder nas Américas na aquisição de módulos chineses.
Sobretudo, essa movimentação não ocorre isoladamente. Fatores como mudanças na política interna da China, ajustes de mercado, priorização da produção local e oscilações cambiais contribuíram para esse comportamento. Assim, este artigo explica por que o Brasil reduziu suas importações de placas solares, o que isso revela sobre o mercado global e quais são os impactos esperados para o restante do ano.
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ToggleQueda de 24% nas importações brasileiras
Segundo os dados divulgados, o Brasil importou 3,74 GW em placas solares chinesas nos dois primeiros meses de 2025. Esse número representa uma retração de 24% frente aos 4,93 GW registrados no mesmo intervalo de 2024.
Mesmo com a queda, o país manteve sua posição de destaque como principal destino das Américas para os painéis fotovoltaicos da China, responsável por 57% do volume total enviado à região. Em segundo lugar aparece o Chile, com participação de 14%.
Portanto, embora o volume absoluto tenha caído, a relevância regional do Brasil como consumidor de energia solar permanece inabalada.
Brasil entre os maiores destinos globais
Além do protagonismo nas Américas, o Brasil também ocupou posição de destaque no ranking global. Durante o primeiro bimestre, o país ficou em quarto lugar entre os maiores compradores de módulos fotovoltaicos chineses.
A liderança ficou com a Índia, seguida por Holanda e Paquistão. Portugal completou o top cinco. Juntos, esses países representaram metade de toda a exportação global de placas solares chinesas no período.
Esses dados indicam que, mesmo com a redução percentual, o Brasil segue como peça estratégica na cadeia global da energia solar.
Motivos por trás da redução das importações
Para entender por que o Brasil reduziu importação de placas solares, é preciso observar também os movimentos do mercado chinês. Em 2025, a China passou a adotar uma nova política de precificação para energia renovável, com redução de subsídios e orientação mais voltada ao mercado.
Essa mudança forçou os fabricantes chineses a priorizarem o mercado interno, o que impactou diretamente a disponibilidade de exportações. Entre 40% e 45% da produção foi direcionada ao consumo doméstico no primeiro trimestre, reduzindo a oferta global.
Além disso, muitos pedidos internacionais com preços mais baixos foram adiados, como forma de ajustar as margens de lucro em meio às novas diretrizes do governo chinês.
Impacto global nas exportações de painéis solares
O comportamento do Brasil segue uma tendência observada em todo o mundo. No primeiro bimestre, a China exportou 38,52 GW de painéis solares — uma queda de 11% em comparação aos 43,11 GW do mesmo período de 2024.
Essa retração afetou todas as regiões, exceto a África, que registrou crescimento nas importações. Para a América Latina, Ásia-Pacífico, Europa e Oriente Médio, a redução representou uma freada importante no ritmo de expansão da energia solar.
Portanto, a redução brasileira não é um caso isolado, mas parte de um ajuste de mercado global em curso.
Efeitos no preço dos módulos fotovoltaicos
Como consequência direta dessa desaceleração nas exportações, especialistas preveem um aumento temporário nos preços dos módulos solares. Atualmente, os valores giram em torno de US$ 0,08/W a US$ 0,085/W, podendo chegar a US$ 0,09/W em algumas regiões durante março e abril.
Contudo, a previsão é que a oferta global se normalize no segundo semestre de 2025. A expectativa é que os preços voltem gradualmente a cair, retomando a tendência observada nos últimos anos.
Dessa forma, o momento atual exige cautela de empresas e consumidores, principalmente quanto ao planejamento de novos projetos solares.
Como o setor brasileiro deve reagir?
Diante da redução de importações, os players do setor fotovoltaico brasileiro devem adotar algumas estratégias de curto e médio prazo. Entre as principais medidas estão:
- Estocagem de módulos adquiridos antes do aumento de preços;
- Negociação com fornecedores alternativos fora da China;
- Busca por incentivos e financiamento para produção local;
- Ajuste na margem de lucro para absorver flutuações cambiais e logísticas.
Assim, o setor poderá manter sua trajetória de expansão, mesmo em um contexto internacional desafiador.
Produção nacional como solução estratégica
A queda nas importações também acende um alerta sobre a dependência externa na cadeia de suprimentos de energia solar. Como alternativa, especialistas apontam a necessidade de fortalecimento da produção nacional de placas solares e insumos fotovoltaicos.
Investir em fábricas locais, pesquisa e inovação pode ajudar o Brasil a reduzir sua vulnerabilidade a oscilações internacionais. Além disso, isso estimula a geração de empregos, a diversificação industrial e o crescimento sustentável.
Portanto, esse pode ser o momento ideal para repensar a estratégia nacional de longo prazo para o setor.
Expectativas para o segundo semestre de 2025
Apesar das incertezas no início do ano, o mercado fotovoltaico brasileiro ainda projeta crescimento para o segundo semestre. A normalização da oferta chinesa e a estabilização dos preços devem reaquecer o ritmo de importações.
Além disso, a manutenção de incentivos para projetos de geração distribuída e o avanço da legislação de armazenamento podem estimular novos investimentos.
Contudo, é fundamental que o setor se mantenha atento a movimentos globais, flutuações no câmbio e alterações regulatórias que possam impactar o planejamento de projetos e o retorno sobre o investimento.
Conclusão
Em resumo, o fato de que o Brasil reduziu a importação de placas solares no primeiro bimestre de 2025 não indica retração no setor, mas sim um realinhamento estratégico em meio a transformações globais.
Mudanças nas políticas chinesas, foco na demanda doméstica e reequilíbrio de preços explicam a queda temporária nos volumes adquiridos. Ao mesmo tempo, o Brasil mantém sua liderança regional e segue entre os maiores compradores mundiais.
Esse cenário representa um momento de ajuste, mas também de oportunidade. Incentivar a produção local, diversificar fornecedores e manter políticas públicas favoráveis podem garantir que o setor solar continue a crescer de forma sustentável e competitiva.