A Geração Distribuída precisa de suas próprias regras. Por que insistimos no modelo antigo?
A insistência em aplicar modelos de gestão da geração centralizada na Geração Distribuída (GD) resulta em centros de operações caros, processos incompatíveis e baixa rentabilidade. Essa abordagem ignora as particularidades da GD, gerando ineficiências graves. A solução é reconfigurar a gestão com centros de operações leves, digitais e escaláveis, focados em automação e parcerias estratégicas para garantir a viabilidade do negócio.
Por que um setor tão inovador quanto a Geração Distribuída insiste em operar com uma mentalidade ultrapassada? A princípio, na corrida pela profissionalização, muitos investidores e gestores de ativos estão cometendo um erro capital: importar soluções caras e complexas da geração centralizada para um ecossistema que é, por natureza, descentralizado e pulverizado.
Sobretudo, essa incompatibilidade cria um paradoxo perigoso. Enquanto se busca a eficiência e o controle inspirados no Sistema Interligado Nacional (SIN), a realidade financeira da Geração Distribuída é corroída por custos operacionais desproporcionais. O resultado é um desequilíbrio que ameaça a rentabilidade e a sustentabilidade dos investimentos no longo prazo.
Portanto, é primordial entender que a GD não é uma versão em miniatura da geração centralizada; ela é um modelo de negócio completamente diferente. Este artigo detalha as cinco ineficiências mais graves causadas por essa mentalidade equivocada e aponta o caminho para uma gestão verdadeiramente alinhada com as necessidades do setor.
O Paradoxo da Gestão de Ativos na GD
A gestão de ativos na Geração Distribuída vive uma crise de identidade. De um lado, há uma pressão legítima por maior controle, métricas de performance e processos robustos. De outro, a aplicação de uma “régua” pensada para grandes usinas em um universo de milhares de pequenos sistemas de energia solar simplesmente não funciona.
Modelos de gestão da geração centralizada são desenhados para ativos de altíssimo valor, com equipes dedicadas e uma estrutura regulatória complexa. Tentar replicar isso na GD é como usar um canhão para acertar um alvo pequeno: o custo da operação supera em muito o benefício. A rentabilidade na Geração Distribuída depende de agilidade, baixo custo operacional e ganho de escala, características opostas às dos modelos tradicionais.
As 5 Ineficiências Graves de um Modelo Inadequado
A insistência em usar um modelo antigo e inadequado para a Geração Distribuída gera uma série de problemas que impactam diretamente o balanço financeiro dos projetos. A seguir, detalhamos as cinco ineficiências mais críticas.
1. Inviabilidade Econômica e Excesso de Investimento
O principal erro é a criação de centros de operações (COs) superdimensionados. A implementação de hardware, softwares de supervisão complexos e equipes presenciais robustas gera um CAPEX (investimento inicial) e OPEX (custo operacional) totalmente desproporcionais ao porte e à receita dos ativos de GD, destruindo as margens de lucro.
2. Incompatibilidade Regulatória e Operacional
Os processos e regulamentos do SIN foram criados para um ambiente de geração centralizada e não têm aderência à realidade da GD. Conforme estabelecido pela Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) na Resolução Normativa 1.000/2021, as regras para a GD são distintas. Forçar uma conformidade com padrões que não se aplicam gera burocracia inútil e desvia o foco dos verdadeiros desafios operacionais do setor.
3. Fragilidade na Gestão de Dados
O paradoxo se repete aqui: ou há uma carência de dados essenciais para a tomada de decisão, ou há um excesso de informações sem padronização e sem uma orientação clara para os riscos. Sem uma plataforma que centralize e traduza esses dados em insights acionáveis, a gestão se torna reativa, lenta e ineficiente.
4. Desalinhamento com o Retorno Sobre o Investimento (ROI)
Toda a sofisticação operacional importada da geração centralizada precisa se justificar financeiramente. Contudo, na prática, esses altos custos não mostram uma relação clara com a melhoria de métricas essenciais como o LCOE (Custo Nivelado de Energia) ou a TIR (Taxa Interna de Retorno), gerando desequilíbrios estruturais no plano de negócios.
5. Ausência de Parcerias Estratégicas
O isolamento entre os players do mercado é outra consequência do modelo antigo. Em vez de buscar operações conjuntas e parcerias para reduzir custos de Operação & Manutenção (O&M) e ganhar escala, muitas empresas tentam internalizar todas as funções, aumentando ainda mais suas despesas fixas e perdendo oportunidades de otimização.
A Solução: Reconfigurar, Não Replicar o Modelo Antigo
A sobrevivência e o crescimento da Geração Distribuída não dependem de replicar o passado, mas de reconfigurar o presente com foco no futuro. A solução não está em construir centros de operações caros, mas em adotar uma mentalidade “lean” (enxuta) e digital.
A GD precisa de Centros de Operações leves, digitais e escaláveis, que operem em nuvem e utilizem automação para as rotinas de monitoramento e gestão. O foco deve ser em plataformas SaaS (Software as a Service) que integrem dados de diferentes fontes e ofereçam relatórios claros com foco no custo-benefício. Além disso, os contratos de O&M devem ter escopos claros e custos proporcionais à receita gerada, priorizando inteligência e eficiência em vez de investimentos desproporcionais.
Conclusão
A Geração Distribuída atingiu um ponto de inflexão. Continuar insistindo em um modelo de gestão antigo e inadequado, importado da geração centralizada, é uma receita para o fracasso financeiro. As ineficiências geradas por essa abordagem não são apenas gargalos operacionais; elas são barreiras que impedem o setor de atingir seu pleno potencial de crescimento e rentabilidade.
A mudança de paradigma é urgente e inevitável. A profissionalização da GD passa pela adoção de soluções próprias, desenhadas para sua realidade descentralizada e dinâmica. Centros de operações digitais, automação, plataformas em nuvem e, sobretudo, uma cultura de colaboração e parcerias estratégicas são os pilares para construir um ecossistema sustentável.
É hora de abandonar a mentalidade antiga e abraçar a inovação não apenas na tecnologia de geração, mas também na forma de gerir os ativos. O futuro da Geração Distribuída depende dessa reconfiguração. Sua empresa já está se adaptando a essa nova realidade? Compartilhe suas experiências e desafios nos comentários.
